sábado, 25 de julho de 2009

O filho de Aristóteles(3º Episódio)

Estavam gostosas? Imagino que sim. Enfim, acho que podemos começar. Onde paramos? Oh sim, Felipe da Macedônia. Após sua morte, seu filho, Alexandre, tomou o poder. Tomar é o termo correto, se lembrarmos da influência de sua mãe com tendências golpistas. Lembre-se pequeno.. er.. Desculpe, não recordo seu nome. Mas lembre-se, nenhuma alma é tão transparente quanto as águas cristalinas da época em que eu era criança e Zeus reinava nos céus da mitologia.

Isso se aplica ao então jovem Alexandre também. Ele não parecia ter vontade de reinar, aquilo estava mais para o “necessário”. Sua mãe o pressionava, assim como a morte de seu pai, causada por mim. Por mais que eu acompanhasse a conduta de Felipe, porém, seu filho não me conhecia.

Quando seus homens ameaçavam deixar as terras pacíficas e adentrar nos campos de batalha, decidi acompanhá-los, talvez por curiosidade, talvez por falta do que fazer. À medida que o grande general avançava nas terras asiáticas, eu o acompanhava com intervalo cada vez menor, chegando cada vez mais perto das penas de seu elmo.

Ele fora aprendiz de Aristóteles, eu de Sócrates. Ah se ele soubesse minha idade. Talvez até me mataria por medo. Apresentei-me apenas como conhecedor das filosofias de Platão, das histórias de Sócrates e etc. Pouco a pouco aproximei-me do círculo interno da “família de Alexandre”. O engraçado foi que não me reconheceram apesar dos retratos falados do tal “Pausânias, o Assassino”.

O destaque, porém, dessa parte do relato, não é o loiro egocêntrico que comandava todos aqueles homens, mas sim os amores que envolvem essa época. Roxana era de inestimável beleza. Eu vi o casamento deles, quando foi anunciado assim. Na primeira vez que botei os olhos em tal criatura, pude sentir uma coisa que nunca havia sentido.

Nos tantos anos de consciência, nunca pensei que algo fosse me arrebatar com tanta intensidade. Minhas mãos suavam mais que nas batalhas em que enfrentei exércitos de homens barbudos armados. Os pêlos da minha nuca, mesmo raros, levantavam, seguindo meus instintos humanos da paixão.

Algo mais forte que a simplória luxúria, mais que tara. Algo que transcendia o conhecido por mim até então. No começo julguei ser fascinação pela beleza do leste, mas aquilo começava já a consumir minha alma.

Nesses tempos, Alexandre procurava unir a cultura natal com a cultura do oriente, eu só desejava tal coisa no nível do amor. Para não me prolongar tanto, vou te mostrar quando me arrisquei nos versos e imortalizei o momento histórico em que, por força, vários povos se uniam:


“Flores pisadas

Espadas quebradas

Muralhas rachadas

Matanças sem fim


Histórias lacradas

Amantes caladas

Adagas cravadas

Amores sem fim


Vacas sagradas

Divindades barbadas

Criaturas aladas

Culturas sem fim


Mortes fechadas

Amizades bradadas

Lavouras rachadas

Alexandrias sem fim


Oh meu senhor

O que seria de mim

Se sua mulher

Vivesse em meu jardim.”


Eu compreendo o que seus olhos perguntam. Sim, consumei minha paixão. Lembro até hoje, quando Roxana fugiu para minha barraca. Talvez eu tenha algum poder de sedução sobrenatural, mas isso nós podemos descobrir mais à frente. Ela entrou no pequeno lugar, encontrou-me sentado remoendo os pensamentos. Ela afastou meus cabelos dos meus olhos, esquadrinhou minhas feições, aconchegou meu pescoço em suas mãos e tocou meus lábios com os seus. O que veio depois foi tão absoluto, que não ouso descrever aqui.

Quando Alexandre morreu, eu descobri o final trágico daquela história. Os antigos amigos dele brigavam entre si por pedaços de terra. Eu fui ameaçado de assassinato, de execução. Não sei como, mas descobriram os meus pecados carnais. O filho, Alexandre IV, foi a maior incógnita até então. Incógnita que meu coração não soube suportar. Deixei aquelas terras ermas sem descobrir o pai da criança, visto que se fosse mesmo minha, não viveria por muito tempo, fosse morta por política, ou por causa de minha “enfermidade”.

Abra a janela por obséquio. O suor já ataca meus poros. Ah, se você preferir, tire seu tênis, permita-me que eu guarde seu casaco, a história deverá alongar-se até o ponto da exaustão humana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário